O futuro da educação pública no Rio de Janeiro passa necessariamente pela rede municipal, onde estudam mais de 634 mil alunos em 1.544 escolas espalhadas pela cidade. Nesse universo de desafios e possibilidades, a ONG Parceiros da Educação Rio busca atuar uma ponte entre a sociedade civil e o poder público, oferecendo apoio direto a escolas, alunos, professores e gestores. Fundada em 2009 e classificada como uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), a instituição tem como propósito melhorar de forma sistêmica a educação carioca, e, ao longo de 16 anos de atuação, já direcionou R$ 40 milhões para iniciativas que impactaram 64 escolas e cerca de 43 mil estudantes. Hoje, quase quatro mil alunos de 13 escolas da Zona Sul são beneficiados por ações que vão desde reforço escolar e capacitação de professores até projetos de equidade racial e acesso à cultura.
— Aproximadamente dois a cada três estudantes da educação básica do Rio de Janeiro estão na rede pública. É nesse espaço que se desenha o futuro da nossa cidade. Acredito que a educação não pode ser vista apenas como responsabilidade de gestores ou professores: ela é um compromisso coletivo. Quando sociedade civil, empresas e indivíduos se unem em torno desse propósito, o impacto é profundo e duradouro, dentro e fora da sala de aula — explica Luiz Octavio Lima, diretor executivo da ONG.
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Entre as novidades mais marcantes deste ano está o primeiro programa de educação antirracista, lançado na Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa. e replicado em outras unidades parceiras. O projeto foi criado para ressignificar o olhar dos educadores sobre a equidade racial, valorizando as contribuições das culturas negras e indígenas como alicerces da formação da identidade brasileira.
Oficinas de música, jongo, samba, capoeira e danças indígenas, rodas de conversa, atividades de mediação de leitura e visitas a espaços significativos para as culturas afro-brasileira e indígena fazem parte de um calendário que pretende transformar não apenas o currículo, mas também a maneira como os professores conduzem suas práticas nas sala de aula.
— Queremos que os professores se reconheçam como agentes de mudança. Quando trazemos para a sala de aula o jongo, a capoeira ou as histórias de matriz africana e indígena, estamos mostrando que a diversidade é um patrimônio que enriquece toda a comunidade escolar — afirma Lêda Fonseca, coordenadora do projeto Lá Vem História, um dos braços da ONG e responsável pela iniciativa.
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O Lá Vem História, que está completando dois anos, é um dos projetos da ONG Parceiros da Educação Rio. Ele oferece oficinas de dança, teatro, música, artes plásticas, passeios culturais e apresentações dentro das escolas, promovendo uma vivência artística ampla para os estudantes. Além disso, amplia o acervo das bibliotecas escolares, doando livros de autores renomados e premiados da literatura infantojuvenil. A formação antirracista é uma das vertentes do Lá Vem História.
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O impacto do programa de educação antirracista vai muito além da teoria. A meta inicial é formar 50 professores em 20 escolas, criando uma rede de educadores preparados para multiplicar o conhecimento e, sobretudo, repensar a educação como espaço de inclusão e respeito. A estreia contou com o apoio de nomes como o humorista Hélio de la Peña, embaixador da ONG.
— A escola é um dos espaços mais importantes para a construção de uma sociedade antirracista. Não basta só ensinar matérias; é preciso formar cidadãos conscientes e livres de preconceitos. Esse é o impacto que a Parceiros da Educação Rio promove nas escolas; apoiar iniciativas como esta é acreditar em um futuro mais justo — destacou o humorista em depoimento publicado nas redes sociais.
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Outro embaixador da causa, o apresentador Fábio Porchat, também participa ativamente. Na Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, gravou uma edição especial de “Que história é essa, Porchat?”, ouvindo relatos de alunos e professores, em um encontro marcado pela espontaneidade e pelo humor. A experiência rendeu ainda uma apresentação de teatro de bonecos preparada pelos próprios estudantes.
A presença de figuras conhecidas reforça não apenas a visibilidade dos projetos, mas também a mensagem de que a educação pública merece estar no centro do debate social.
— Estou muito feliz de estar junto com a Parceiros da Educação Rio e saber que vocês estão colocando a mão na massa para mudar esse país — disse Porchat, emocionado.
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Além do investimento em diversidade e cultura, a ONG aposta em iniciativas que afetam diretamente o aprendizado e a saúde dos alunos. Um exemplo é o projeto Visão Esperança, realizado em parceria com as marcas Fuel e Zerezes e com apoio da Clínica Vita Oftalmologia. Voltado para crianças da rede municipal, ele oferece exames oftalmológicos e a doação de óculos de grau para estudantes que necessitam de correção visual. Até o fim do ano, a expectativa é doar mais de 500 óculos e realizar cerca de cinco mil testes oftalmológicos em 19 escolas da cidade. A proposta é simples, mas transformadora: uma criança que enxerga melhor aprende melhor.
O trabalho da ONG também inclui um eixo pedagógico robusto, estruturado em diferentes frentes. Oficinas de planejamento apoiam professores da educação infantil e dos anos iniciais, ajudando-os a lidar com lacunas de aprendizado identificadas em avaliações.
O reforço escolar, voltado para alunos que estão abaixo do nível básico, busca resgatar potencialidades e dar suporte para que ninguém fique para trás. Kits escolares com livros e jogos lúdicos, materiais pedagógicos e projetos desenvolvidos dentro das próprias escolas ampliam as ferramentas de ensino. Passeios e eventos culturais alinhados ao projeto pedagógico completam a proposta, oferecendo oportunidades práticas que tornam o aprendizado mais atrativo.
— É impossível não se emocionar ao acompanhar de perto o impacto que a educação pública pode ter na vida de uma criança. Quando um estudante descobre que pode mais do que imaginava, isso reverbera na família, fortalece vínculos na comunidade e inspira professores a seguirem acreditando no seu papel transformador. Cada avanço, por menor que pareça, é a prova de que investir na escola pública é investir no futuro do Rio. Essa é a convicção que me move todos os dias — diz Lima.
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A Parceiros da Educação Rio também mobiliza a sociedade para apoiar financeiramente a causa. No último mês, promoveu um jantar beneficente no Horto, reunindo empresários, filantropos e personalidades em uma noite dedicada a arrecadar recursos para ampliar o alcance das ações. O ponto alto do evento foi o leilão solidário, que contou com itens disputados como camisas autografadas de clubes cariocas (o Fluminense alcançou o maior lance, seguido por Flamengo, Botafogo e Vasco) e peças esportivas do jovem tenista João Fonseca, hoje número 42 do ranking mundial.
— Ver tanta gente comprometida em apoiar a educação pública nos dá certeza de que estamos no caminho certo. Cada recurso arrecadado é um investimento direto na vida de milhares de crianças e adolescentes do Rio — ressalta Luiz Octavio Lima.
Para os próximos anos, a meta é ousada: atrair R$ 32 milhões até 2028, multiplicando a rede de apoio para mais escolas. Até 2026, a expectativa é incluir no programa quatro novas unidades da Zona Sul.
O reconhecimento pelo trabalho realizado já ultrapassou os muros das escolas. A ONG conquistou o selo A+ do Instituto Doar, foi eleita entre as 100 Melhores ONGs do Brasil em 2022 e 2024 e recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto em 2024, concedida pela Câmara do Rio de Janeiro. Os prêmios dão credibilidade à organização, o que facilita a mobilização de doadores, voluntários e parceiros.
*Esta matéria foi publicada no especial Educação do GLOBO-Zona Sul deste sábado (27)