A Delegacia de Homicídios da Capital finalizou a investigação sobre a morte de Marcelle Julia Araújo da Silva, de 18 anos. O corpo da jovem foi encontrado no último dia 14, no interior de uma casa na Pavuna, Zona Norte da cidade. O comerciante chinês Zhaohu Qiu, de 35 anos, foi indiciado por feminicídio e ocultação de cadáver. Ele confessou o crime e disse que escondeu o corpo da vítima em uma residência em obras, a cerca de 800 metros do local onde a matou. Ainda segundo seu relato, usou um carrinho de mão e cobriu o corpo com uma lona preta que servia de cortina em casa. Os policiais também indiciaram um amigo de Zhaohu Qiu por omissão de socorro. Segundo a polícia, ele ouviu o crime e não fez nada a respeito.
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De acordo com a Polícia Civil, Qiu confessou em depoimento que enforcou a vítima, com quem mantinha uma relação conturbada. Segundo o relato, Marcelle teria chegado à casa dele por volta das 2h da madrugada para fumar maconha. Eles teriam ingerido bebida alcoólica e dormido no local. Ao acordar, Qiu afirmou ter visto a jovem com a boca aberta e uma marca roxa no pescoço. Questionado se a havia enforcado, respondeu que sim.
O suspeito alegou que “deduziu” que ela estava morta e, temendo reação de traficantes e da polícia, decidiu ocultar o corpo. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que ele deixa o imóvel empurrando um carrinho coberto por uma lona azul, usada para transportar o corpo até outro endereço que lhe pertencia e estava em obras, também na Pavuna.
A perícia identificou marcas de mordida de cães da raça pit bull no corpo de Marcelle. O suspeito não confirmou se havia animais na casa, mas testemunhas relataram que ele criava dois cães no local.
O corpo foi encontrado coberto por entulho e uma lona. Testemunhas ouvidas pela polícia relataram que Qiu era obcecado por Marcelle, mas não era correspondido.Zhaohu Qiu foi preso em São Paulo, onde se escondia.
Marcelle e Xau se conheciam havia pelo menos dez anos. Ele era dono de um trailer de yakisoba no bairro e mantinha relação próxima com a família da vítima. Frequentava festas e churrascos, e chegou a ser visto como uma figura prestativa e amiga. Mas, segundo testemunhas, nutria uma obsessão por Marcelle, que não correspondia às investidas.
De acordo com testemunhas, a jovem teria sido atraída até a casa do suspeito sob o pretexto de ganhar uma cesta de Dia dos Namorados. De acordo com amigas de Marcelle, Xao prometeu que só entregaria o presente se a jovem fosse buscá-lo pessoalmente — o que, segundo a família, pode ter sido uma armadilha.
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Câmeras de segurança analisadas pela polícia registraram Marcelle chegando à casa de Xau às 2h18 da madrugada do dia 12 de junho. Poucas horas depois, às 7h10, o suspeito foi filmado deixando o imóvel na Rua Robert Chuma, em Jardim América, empurrando um carrinho coberto por uma lona azul — semelhante à que foi encontrada envolvendo o corpo da jovem — em direção à outra casa de sua propriedade, que estava em obras.
Testemunhas ouvidas pelos investigadores relataram ainda que o chinês costumava convidar meninas para festas com álcool e drogas, nas quais tentava obter relações sexuais. Amigos próximos da vítima reforçaram que ele era obcecado por Marcelle. Um colega que dividia a casa com Xau disse ter ouvido barulhos de esganadura na madrugada do dia 12 e que, desde então, o suspeito desapareceu da vizinhança e parou de atender telefonemas.
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Moradora de Jardim América, na Zona Norte do Rio, Marcelle Julia tinha 18 anos e sonhava em empreender. Estava concluindo um curso de design de sobrancelhas e planejava criar uma página nas redes sociais voltada à autoestima feminina.
— Ela era linda, carismática, muito alegre e gostava de ajudar os outros a se sentirem bem. Tinha uma vida inteira de sonhos e estava buscando realizá-los — contou Cláudia Luciana, tia-avó da jovem.
O primo Ramon Souza lembrou do jeito expansivo da adolescente:
— Adorava dançar, dançava de tudo, mas funk era o ritmo favorito. Gostava de praia também e do Flamengo.
Zhaohu Qiu, ou Xau, chegou ao Brasil há cerca de uma década e se estabeleceu em Jardim América, onde passou a ser conhecido como vendedor de yakisoba. Aparentemente bem relacionado, ele era visto com frequência em eventos familiares da casa de Marcelle.
— Ele sempre foi um parceiro da família. Sempre agradável, solícito, mas tinha uma obsessão pela Marcelle. Nunca entendemos bem. Ele a conheceu quando ela ainda era uma menina — disse Daiana Azoor.
Apesar de nunca ter tido seus sentimentos correspondidos, Xau insistia em estar próximo, sempre tentando agradar. A amizade entre os dois fazia com que ninguém desconfiasse de um possível risco. Por isso, o crime chocou a comunidade.
