“Em um primeiro momento, eu só soube que os meus filhos estavam desaparecidos. O Exército chegou ao kibutz Nir Oz, revistou casa por casa e viu que não havia ninguém na casa de Iair. Foi um grande desespero não saber onde estavam, mesmo que eu sentisse que os dois estavam vivos. Nesse tempo, minha neta disse que eu podia ficar tranquila, que Eitan [um dos filhos] era muito bom em brincar de esconde-esconde, e que com certeza ele estava em algum lugar e alguém ia encontrá-lo. Infelizmente, logo descobrimos que não era isso.
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Eu fiquei sem saber absolutamente nada sobre eles até o dia 25 de novembro [de 2023], quando me informaram que os dois estavam vivos, mas que tinham sido sequestrados e levados para Gaza. Desde então, minha vida mudou do dia para a noite.
O fato de que Iair tenha voltado [Iair Horn foi resgatado em uma troca de reféns israelenses por presos palestinos, no âmbito de um acordo político mediado por EUA, Catar e Egito no começo do ano] e que Eitan tenha ficado lá foi muito duro.
Por um lado foi uma alegria ver Iair… Pensei nele e que estava de volta. Foi a primeira coisa que disse a ele: ‘Você voltou para casa’. Foi muito difícil, porque apesar de ele não contar o que passou e onde esteve em Gaza, sabemos que ficou nos túneis todo o tempo, o que é uma situação horrorosa. Não preciso que ele me conte. Olhando para ele, entendo o que ele passou e o que Eitan segue passando lá.
É muito difícil receber um filho, com um pouco de felicidade, mas saber que seu outro filho segue sofrendo. Eu disse desde o primeiro momento que eu sabia e sentia que os dois estavam juntos. A primeira coisa que Iair contou quando voltou, foi que teve que se despedir de Eitan, pois estavam mesmo juntos.
A única coisa que eu faço é pensar e mandar forças para Eitan e para todos os sequestrados, e ver em que posso ajudar para trazê-los de volta. Queria poder entrar em Gaza e trazer todos, mas isso eu não posso fazer.
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Não desejo o que estou passando agora para nenhuma mãe no mundo. Não consigo acreditar que está prestes a completar dois anos [do atentado lançado pelo Hamas], mas espero que antes de 7 de outubro, Eitan e os sequestrados estejam de volta conosco.
Desde que voltou, tudo o que Iair tem feito é ver o que pode fazer para trazer Eitan e os outros de volta. Não se preocupa com ele, com sua vida, com o que vai acontecer depois… Por agora, o importante é trazer Eitan, e só no momento em que ele estiver aqui, nós, enquanto família, vamos poder nos recuperar de tudo que estamos passando.
Com relação à guerra, acredito que ela deveria ter parado há muito tempo. Sabemos que em momentos que houve pressão militar, lamentavelmente sequestrados que estavam com vida, voltaram para nós mortos. É um perigo muito grande para os que estão lá. Meu pensamento é que temos que acabar com tudo isso. Precisamos que todos os sequestrados voltem para refazer nossas vidas, para voltarmos a ser o que éramos antes. É esse pedido que fazemos todos os dias e espero que todos estejam conosco o quanto antes”.
*Ruth Strum tem dois filhos, Iair e Eitan Horn, sequestrados pelo Hamas durante a invasão do Kibutz Nir’Oz, no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, e desde então participa de ações para manter viva a pauta pela libertação dos reféns. Em fevereiro, Iair voltou para casa por meio de um acordo político.