Para os opositores do regime, os militares venezuelanos soavam por anos como uma esperança para conduzir o processo de derrubada do presidente Nicolás Maduro. No entanto, mesmo com o ameaçador reforço militar dos EUA atualmente na região do Caribe perto da EUA, Maduro tem mantido a imagem de um líder praticamente à prova de golpes. Ao longo de 12 anos no poder, o esquerdista desenvolveu uma série de estratégias para lidar com aqueles que ameaçam sua liderança, desde prisões políticas e espiões infiltrados a subornos e ameaças de tortura e morte.
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Com o auxílio de oficiais de inteligência cubanos, além de espiões venezuelanos, o regime de Maduro conseguiu identificar focos de rebelião e conspirações nas Forças Armadas, e oficiais militares acusados de conspirar contra ele foram presos e enviados para o exílio. Aqueles que fornecem informações sobre os inimigos do presidente são recompensados com empregos, dinheiro, carros e até casas.
Além disso, os altos escalões das Forças Armadas garantem que todos os militares estejam cientes de que tortura, prisão e até mesmo a morte os aguarda caso se rebelem. E que seus familiares também são potenciais vítimas da repressão. Dos 845 presos políticos que, segundo o grupo de direitos humanos Fórum Penal, estavam detidos na segunda-feira, 173 são ex-militares.
— Hoje, há um terror incalculável no Exército. Esse medo está tão profundamente enraizado neles que os oficiais das Forças Armadas não ousam nem pensar em se rebelar — conta Carlos Guillén, um ex-soldado venezuelano preso por conspirar contra o regime e que agora vive no exílio, em entrevista ao Wall Street Journal.
Segundo ele, Maduro fez “tudo o que era possível e capaz” para neutralizar qualquer tipo de represália dentro das Forças Armadas da Venezuela.
Agentes de inteligência dos EUA na América Latina têm um histórico de envolvimento em golpes de Estado, incluindo na Guatemala em 1954 e na derrubada de Salvador Allende, no Chile, em 1973. Quando o antecessor de Maduro, Hugo Chávez, foi derrubado por 48 horas em 2002, os EUA expressaram brevemente sua aprovação pública, embora negassem envolvimento.
Em 2019, o governo Trump trabalhou para estimular uma revolta entre os oficiais militares venezuelanos para destituir Maduro, que sucedeu a Chávez em 2013. Embora centenas de soldados da Guarda Nacional e policiais tenham desertado, a tentativa fracassou porque os oficiais de alto escalão do exército que comandavam unidades essenciais não acompanharam o movimento.
Durante seu mandato, Maduro roubou duas eleições presidenciais, afirmam observadores eleitorais e grupos de direitos humanos, ao mesmo tempo em que prendeu críticos e supervisionou um colapso econômico que levou oito milhões de venezuelanos a deixarem o país. Ainda assim, de certa forma, Maduro parece estar mais seguro do que nunca, com a maioria dos líderes da oposição no exílio e os venezuelanos com medo de protestar como faziam antes.
O que mina a esperança numa revolta dos militares é que Maduro se cercou de uma fortaleza de subordinados cujas fortunas e futuros estão ligados ao seu, desde o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, até generais, almirantes, coronéis e capitães de todas as forças armadas.
Ex-oficiais militares e pesquisadores que estudaram as Forças Armadas venezuelanas afirmam que o presidente promoveu oficiais em ritmo acelerado, baseando-se principalmente na lealdade ao invés da competência, e suas ações permitiram que eles enriquecessem. Segundo reportagem do Wall Street Journal, esses oficiais recebem pagamentos de traficantes de drogas para permitir o trânsito de cargas de cocaína pela Venezuela e administram inúmeras empresas estatais. Isso os tornou cúmplices da corrupção generalizada do regime.
Durante o primeiro mandato de Trump, a equipe do presidente americano e a oposição venezuelana tentaram projetar uma revolta militar na Venezuela quando os EUA reconheceram o legislador da oposição Juan Guaidó, e não Maduro, como presidente.
Agentes venezuelanos que trabalham com os EUA trabalharam para que militares venezuelanos se voltassem contra Maduro, mas a pressão internacional não foi suficiente, já que o alto comando militar estava ao lado do presidente. Além disso, a justiça americana e internacional ajudou indiretamente a solidificar o controle de Maduro, já que oficiais militares de alto escalão, assim como Maduro, foram indiciados ou sancionados por tráfico de drogas, corrupção e violações de direitos humanos. Caso o regime do presidente seja derrubado, esses aliados cairiam junto.