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entenda como ostentar livros virou mania entre celebridades, tiktokers e até personagens de ‘Vale Tudo’

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setembro 20, 2025
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Maria de Fátima (Bella Campos) faz selfie com livro de Cecília Meirelles em cena de "Vale Tudo" — Foto: Divulgação

Uma selfie com um livro, uma estante instagramável, um post com a lista de “leituras do mês”. Na era das redes sociais, o ato de ler virou espetáculo. A exibição pública do livro pesa tanto ou mais do que a experiência íntima da leitura.

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Esta mudança cultural tem nome: “performative reading” (leitura performática, em tradução livre). A expressão não indica, necessariamente, o hábito de simular leituras, mas o de compartilhar sua fome de livros para o restante do mundo.

Entre os leitores performativos, encontram-se celebridades globais como a diva pop Dua Lipa, que compartilha listas de títulos favoritos. Ou a cantora teen Olivia Rodrigo, que fez questão de mostrar o exemplar de “A hora da estrela” que carregava na bolsa.

O fenômeno também é impulsionado pelo BookTok, como é conhecida a comunidade dedicada a livros no TikTok. No Brasil, chegou à novela das 21h da TV Globo, que trata as obras literárias lidas pelas personagens como uma espécie de extensão da personalidade delas. Em episódio recente de “Vale tudo”, a aspirante a influencer Maria de Fátima (Bella Campos) se fotografou com um título da poeta Cecília Meireles. Mesmo não sendo muito chegada à literatura, a personagem usou a obra para performar uma aura cult.

— Na sociedade do espetáculo, não importa tanto a experiência emocional que um livro desperta, mas a imagem que ele projeta para o olhar do outro — diz o psicanalista e pesquisador André Alves, cofundador da página @floatvibes, que analisa tendências contemporâneas. — Tudo é feito para esse olhar publicizado, que convoca o engajamento o tempo todo.

Maria de Fátima (Bella Campos) faz selfie com livro de Cecília Meirelles em cena de “Vale Tudo” — Foto: Divulgação

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  • Hábito da leitura em queda
      • entenda como ostentar livros virou mania entre celebridades, tiktokers e até personagens de ‘Vale Tudo’

Hábito da leitura em queda

Enquanto registros de livros se multiplicam, pesquisas sobre hábitos de leitura assustam especialistas. A última edição do Retratos da Leitura registrou a maior queda já medida desde o início da pesquisa no Brasil. E um levantamento feito pelo University College London e pela Universidade da Flórida mostrou que o número de pessoas que leem por prazer despencou 40% em 20 anos nos EUA. No TikTok, um vídeo viral dá dicas de como “ler” títulos em um dia usando o ChatGPT. Basta anexar um PDF da obra e pedir para a plataforma resumir tópicos, tramas, personagens etc.

— A necessidade de produzir conteúdo constante faz com que muitos priorizem quantidade em vez de qualidade — diz o jornalista e booktoker Rodrigo De Lorenzi. — Muitas vezes, a “leitura” se resume a folhear páginas, fotografar a capa ou citar um trecho fora de contexto, sem aprofundamento ou real compreensão do conteúdo.

Da oralização pública dos escritos sagrados pelos monges aos saraus poéticos, a leitura sempre foi acompanhada de sociabilidade. Essa dimensão comunicacional, porém, ganhou novas configurações e usos com os leitores conectados do século XXI.

— Hoje, o livro pode ser ao mesmo tempo acessório de moda, símbolo de status, artefato cultural, objeto de performance e tantas outras camadas, a depender das características de sua produção, circulação e recepção — diz Jean Silveira Rossi, pesquisador das práticas de leitura e das culturas digitais.

Séculos antes da invenção da fotografia e do Instagram, as damas da sociedade já tinham o costume de posar com livros para pintores. Historiadora da Universidade de São Paulo, Marisa Midori cita o célebre retrato de Madame de Pompadour com uma Enciclopédia de Diderot. Censurada pelo governo da época, a obra aparece como símbolo de distinção, poder e rebeldia.

— A performance da leitura antecede as redes sociais — diz Midori. — A diferença é que agora o celular invadiu as nossas vidas a ponto de registrar até os momentos íntimos. É como se não tivéssemos mais uma separação entre vida pública e privada.

Desde que a pandemia popularizou lives e chamadas de vídeo dentro dos lares, as estantes de livros ficaram mais públicas do que nunca. O neologismo bookshelfie combina as palavras inglesas book (livro), shelf (prateleira) e selfie para descrever os registros das nossas bibliotecas. Em julho, a influencer Rafa Kalimann foi alvo de críticas ao pagar R$ 10 mil em livros para supostamente embelezar a casa. A polêmica pôs em evidência o nicho dos coffee table books, ou livros decorativos.

Diretora da Queen Books, referência na importação de livros do segmento, Debora Medeiros diz que as edições de luxo não são apenas objetos de status. Elas ajudam a definir a personalidade dos donos da casa.

— Basta olhar esses livros para entender os interesses da pessoa, sem que ela precise dizer uma palavra — diz ela. — Quem ama viajar pode ter livros sobre destinos marcantes, quem é fascinado por moda pode exibir títulos sobre suas grifes favoritas. Os livros de culinária da editora inglesa Phaidon, lindíssimos, além de informativos, ficam maravilhosos em uma cozinha.

Para Midori, a expressão “leitura performática” traduz o efeito imediato das redes sociais. Ou seja, transforma em instantaneidade uma prática que exige tempo e introspecção. Contudo, o fenômeno teria um lado positivo, de acordo com a historiadora.

— Pelo menos, isso está ajudando a manter os livros em circulação — diz Midori. — Talvez a leitura não tenha desaparecido e apenas tenha sido incorporada ao fluxo das redes. Fotografar, compartilhar e comentar pode ser um novo modo de ler em comunidade.

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