A busca pela juventude eterna nunca esteve tão em alta. Os procedimentos estéticos avançaram, os resultados ficaram mais naturais, mas também cresceu um fenômeno preocupante: a expectativa irreal de que seria possível “parar o tempo”. Embora seja saudável cultivar autoestima e desejar sentir-se bem com a própria aparência, imaginar que é possível manter um rosto igual ao dos 20 anos por décadas pode gerar frustrações e até comprometer a saúde mental.
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“Acredito que a expectativa de um resultado perfeito cria expectativas irreais. É sim saudável ter autoestima, vaidade e querer se sentir bem na própria pele, ter um rosto que se sinta confortável. O que não dá é querer ‘parar o tempo’. O tempo não para, ele é implacável. Envelhecemos e mudamos ao longo do tempo. Além disso, não temos apenas rosto e pescoço. Temos todo o resto do corpo, por dentro e por fora, onde também envelhecemos”, enfatiza a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Ela observa que as queixas são antigas, mas as expectativas aumentaram. “Cada vez mais nos consultórios, vemos pacientes de 50 a 70 anos que querem se sentir bem, não deixar o rosto ‘cair’; querem ‘puxar a pele que caiu’ da face e do pescoço. As queixas são as ‘mesmas de sempre’, porém, as expectativas são cada vez maiores! As ‘famosas’ que fazem lifting postam fotos com maquiagens perfeitas e filtros (mesmo depois de todos os procedimentos) e geram expectativas, muitas vezes, irreais. Os resultados hoje são incríveis, as cirurgias e os procedimentos dermatológicos evoluíram muito, porém, mesmo assim, maquiagens, filtros e photoshop também são muito usados”, acrescenta.
Segundo a dermatologista, a pressão social e o poder das redes afetam até os mais jovens. “Escuto cada vez mais no consultório de pacientes de 18 a 25 anos que nas redes sociais há uma recomendação para eles aplicarem toxina botulínica cedo. Explico sempre que a indicação depende do diagnóstico clínico, do exame dermatológico. Até uma criança de 10 anos, ao fazer as mímicas da face, pode ‘franzir’ o rosto, mas que ao ficar em repouso, essas ‘linhas’ somem. A indicação de toxina botulínica ocorre quando essas linhas não somem no repouso. A grande maioria (99%) entende e ‘abre mão’ da toxina botulínica. Mas, mais que uma pressão cultural, existe uma pressão das redes sociais em todas as idades”, comenta.
Ela alerta ainda para os riscos da obsessão pela estética. “Para alguns pacientes, a comparação constante e o excesso de intervenções podem até transformar o cuidado com a estética em uma obsessão. Nesses casos, é preciso ter certeza de que esses pacientes não apresentam dismorfismo corporal (quando a pessoa se preocupa excessivamente com defeitos sutis ou inexistentes). Ao identificar isso, o médico pode encaminhar esse paciente para a terapia”, afirma Paola. “Nessas situações, há o risco de deixar de lado o entendimento de que o envelhecimento é um processo natural e inevitável”, completa.
Como não é apenas a pele que envelhece, mas todo o corpo passa por mudanças fisiológicas ao longo dos anos, a especialista ressalta a importância dos cuidados de dentro para fora. “Preocupar-se com a prática regular de atividade física, com a dieta equilibrada, com a qualidade e quantidade de sono adequada, para, então, vivermos mais e melhor por muitos anos, com uma aparência que nos deixe satisfeitos e que seja compatível com nossa ‘cabeça e nosso corpo’. O que adianta ter um resultado fantástico de um lifting facial e uma manutenção impecável com procedimentos dermatológicos se não conseguir sentar e levantar de uma cadeira com facilidade, por exemplo?”, questiona.
Sobre os tratamentos, ela reforça que a prioridade é estimular o colágeno e a firmeza da pele. “Mas existem algumas particularidades como face mais volumosa e pesada ou face emagrecida e com tendência a perder volume facilmente. Portanto, o mais importante sempre é um diagnóstico bem feito antes de tudo por dermatologista experiente para, então, traçar um plano com técnicas que abordem as necessidades de cada pele, de cada face”, explica.
“Até mesmo a escolha de uma tecnologia ou de um injetável, ou ainda a associação de ambos, deve ser feita pelo dermatologista com base no diagnóstico médico”, completa.
“Tudo que é bem feito é difícil de ser detectado. Um preenchimento bem feito não aparenta ‘aumento de volume da face’, por exemplo. Um lábio bem preenchido parece natural, parece que a pessoa nasceu com ele. E assim por diante. Mas quando os procedimentos são exagerados, mal executados e detectáveis, mesmo se forem feitos em uma pessoa jovem, ela realmente parecerá ter mais idade do que tem”, complementa.
Por fim, Paola reforça que o processo de envelhecer não pode ser apagado. “Uma adolescente de 15 anos nunca mais irá parecer uma criança de 10 anos. Da mesma maneira que, por mais procedimentos realizados, uma mulher de 50 anos nunca mais irá parecer ter 20 anos. Todos os dias envelhecemos um pouco. O envelhecimento é dinâmico e diário. E se envelhecemos é porque temos sorte de sermos saudáveis! Não podemos esquecer que envelhecer é um privilégio apenas para aqueles que têm a sorte de viver mais”, finaliza a dermatologista.