Um vídeo divulgado pelo Departamento de Defesa americano nesta quinta-feira mostra como funcionam as bombas destruidoras de bunkers usadas pela primeira vez nos ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Realizada na sexta-feira, a ofensiva de Washington elevou a tensão entre os países e abriu, na sequência, uma guerra de versões sobre o quanto efetivamente a infraestrutura iraniana foi danificada.
- Em lados opostos: Israel e Irã proclamam ‘vitória histórica’ com cessar-fogo na ‘guerra de 12 dias’
- Trump critica Israel e Irã por falha em cessar-fogo: Trégua anunciada era desconhecida até por funcionários americanos
Nas novas imagens, registradas num teste do armamento, uma MOP (Massive Ordnance Penetrator) da série GBU-57 cai sobre alvos fortificados e gera uma bola de fogo.
“NENHUM OUTRO PAÍS NO MUNDO TEM O ARMAMENTO OU AS CAPACIDADES QUE OS ESTADOS UNIDOS TÊM”, escreveu a pasta, ao publicar as imagens nas redes sociais.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, o Chefe do Estado-Maior Conjunto, Tenente-General Dan Caine, explicou a jornalistas que essa bomba, de quase 14 toneladas, se difere daquelas “de superfície normal” por não gerar uma cratera de impacto logo de início.
— Elas são projetadas para se enterrar profundamente e então funcionar — destacou ele, que apontou o sucesso da operação contra o Irã. — Todas as seis armas em cada ventilação da Fordow [usina de enriquecimento de urânio] foram exatamente para onde deveriam ir.
Outro trecho das imagens mostra o MOP atingir o alvo em câmera lenta e atravessá-lo antes de ser detonado.
— Uma bomba tem três efeitos que causam danos: explosão, fragmentação e sobrepressão. Neste caso, os principais mecanismos de destruição no espaço da missão foram uma mistura de sobrepressão e explosão — acrescentou Caine. — Imaginem como isso se parece seis vezes.
O ataque inédito representou um desafio até mesmo para pilotos experientes da Força Aérea dos EUA. Nos anos anteriores à missão de 37 horas para atacar a instalação nuclear iraniana em Fordow, os pilotos da Força Aérea dos EUA passaram pelo menos 24 horas seguidas em um simulador de voo de bombardeiro B-2, que é uma réplica de sua cabine.
Nos dias ou semanas que antecederam a missão, provavelmente realizaram simulações de ataques em um alvo feito para parecer um local fortemente fortificado enterrado nas profundezas de uma montanha. Quase tudo na missão, realizada a partir da Base Aérea de Whiteman, no Missouri, seria parecido, com apenas algumas grandes diferenças, disse o tenente-general reformado Steven Basham, que pilotou o avião em missões de treinamento e combate por nove anos.
Na missão real, realizada nas primeiras horas da manhã de domingo no Irã, os pilotos “sentiam o barulho” das portas do compartimento de armas se abrindo, mudando brevemente o formato do avião furtivo e potencialmente expondo-o ao radar inimigo.
Os B-2s que atacaram Fordow carregavam, cada um, duas bombas fura-bunkers maciças projetadas para desativar o alvo profundamente enterrado. Quando as equipes de dois homens liberaram sua carga, pesando um total de 27 toneladas, seus B-2s provavelmente subiram rapidamente, disse o general Basham.
- Bombardeiro com IA, autonomia total e alcance global: EUA já preparam o sucessor do avião invisível usado em ataque no Irã
Para os pilotos, foi quase certamente uma sensação nova.
Outros bombardeiros do arsenal americano, como o B-1 e o B-52, desempenharam papéis importantes nas guerras do Iraque e do Afeganistão, lançando enormes quantidades de bombas em apoio às tropas terrestres. Mas o B-2 — o avião mais caro da História, custando US$ 2,2 bilhões por exemplar — desempenhou um papel muito mais especializado.
Para alguns dos pilotos, a missão de domingo foi possivelmente a primeira vez que voaram o B-2 em combate e lançaram bombas. Os ataques também marcaram o primeiro uso das bombas destruidoras de bunkers GBU-57 em combate.
Nas horas seguintes ao ataque, autoridades militares e de inteligência dos EUA ainda avaliavam os danos tanto no local em Fordow, quanto na psique da liderança iraniana.
— Nossa esperança é que a lição que os iranianos aprenderam aqui seja: vejam só, podemos lançar uma bomba destruidora de bunkers do Missouri até o Irã completamente sem ser detectada, sem pousar uma vez no solo, e podemos destruir qualquer capacidade nuclear que vocês construírem — disse o vice-presidente J.D. Vance à Fox News em uma entrevista na segunda-feira. — Acho que essa lição é o que vai ensiná-los a não reconstruir sua capacidade nuclear.
As primeiras missões de mais de 30 horas do B-2 ocorreram durante a guerra do Kosovo em 1999. Na época, a ideia de voar em uma missão de combate e voltar para casa a tempo de buscar as crianças no treino de futebol ainda era novidade e um tanto surreal para quem pilotava.
— É meio estranho se vestir no seu próprio banheiro e depois entrar em combate — disse um piloto de B-2 ao The Wall Street Journal nos primeiros dias da guerra do Kosovo.
Desde então, pilotos de B-2 realizaram missões de combate no Iraque, Afeganistão e Líbia. Os bombardeiros B-2, construídos para transportar armas nucleares, realizam regularmente missões de dissuasão na Europa e na Ásia a partir de sua base no Missouri.
- Diz jornal: Inteligência dos EUA aponta que ataques atrasaram programa nuclear do Irã em apenas alguns meses
Os últimos 25 anos ensinaram à Força Aérea e aos seus pilotos muito sobre como voar em missões longas. Hoje, médicos e fisiologistas da Base Aérea de Whiteman são especialistas em ajudar pilotos de B-2 a preparar seus corpos para longos períodos na cabine.
Se forem avisados com antecedência suficiente, os pilotos tentarão ajustar seus horários de sono para que seus relógios biológicos estejam sincronizados com sua missão.
Cada B-2 é pilotado por uma tripulação de duas pessoas. A pequena cabine tem espaço para um banheiro e um espaço atrás dos assentos, onde o piloto pode se esticar em uma cama dobrável ou colchonete e tirar uma breve soneca. Ambos os pilotos devem permanecer em seus assentos durante a decolagem, o pouso, os reabastecimentos em voo e durante todo o tempo em que estiverem sobrevoando território inimigo.
Os aviões também são equipados com pequenos aquecedores para alimentos, mas muitos pilotos de B-2 preferem refeições simples, como sanduíches, em missões longas.
— Você aprende a beber muita água — disse Basham, que voou em missões de combate no Kosovo.
As missões provavelmente se desenrolaram de forma semelhante às que os pilotos de B-2 realizaram em guerras anteriores. Nessas missões anteriores, no Kosovo e no Iraque, os pilotos avistaram canhões antiaéreos e mísseis no céu abaixo deles. Desta vez, autoridades do Pentágono disseram que os iranianos não dispararam contra os B-2 ou os caças de escolta F-35.
Nos conflitos anteriores, os pilotos de B-2 lançavam, no máximo, bombas guiadas de precisão de 900 kg. Desta vez, cada B-2 lançou duas munições de 13.600 kg sobre o alvo.
Basham não pôde deixar de se perguntar como seria se livrar de todo esse peso.
— Será interessante ouvir os pilotos — disse ele.