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‘Netanyahu enfraquece Israel e compromete a integração regional’, afirma escritor israelense

BRCOM by BRCOM
outubro 26, 2025
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David Grossman, escritor e intelectual israelense — Foto: Pedro Kirilos

Quando David Grossman fala, convém prestar atenção. Aquele que por muitos é considerado o maior escritor israelense vivo, há décadas cotado para o Nobel, acaba de lançar a antologia “O coração pensante — sobre Israel e Palestina”. A edição da Cia. das Letras inclui, além de textos publicados entre 2017 e 2024 nos jornais New York Times, Financial Times, Libération, Guardian e Haaretz,uma entrevista dada pelo intelectual de 71 anos ao cientista social brasileiro Daniel Douek. Uma das vozes mais lúcidas da combalida esquerda de seu país, Grossman define a coleção como uma tentativa de dar voz aos sentimentos e à mentalidade que o atual capítulo “desta guerra sem fim” impõe a israelenses e palestinos.

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Há dois anos, Grossman conversou com O GLOBO semanas após os ataques terroristas do Hamas, que mataram 1.221 pessoas em 7 de outubro de 2023, quase todos civis. À época, afirmou que, apesar de o horror “incomparável” fortalecer os “fanáticos fundamentalistas”, não se daria “ao luxo do desespero”. Desde então, a reação israelense incluiu a destruição quase total da Faixa de Gaza e a morte de 68.200 palestinos, também em sua maioria civis, números que a ONU considera confiáveis. Em agosto, “com dor no coração”, uniu-se às vozes que, dentro do país, denunciaram o “que acontece diante de meus olhos: um genocídio”.

Em entrevista por chamada de vídeo de sua casa em Jerusalém, Grossman pontua também estar “furioso” com a explosão de antissemitismo no Ocidente e destaca a importância de se saudar o país que “sai conosco às ruas todos os sábados para protestar contra o premier Benjamin Netanyahu, a extrema direita e a guerra”. E, embora destaque a fragilidade do cessar-fogo costurado pelos EUA, afirma não ter capitulado em sua crença na paz, mesmo sendo “algo que jamais experimentei de fato em toda minha existência”.

O senhor está esperançoso com o cessar-fogo?

Falar sobre o futuro de Israel e Gaza inclui, inevitavelmente, mais ainda agora, uma dose de irresponsabilidade. Dito isso, o cessar-fogo, mesmo frágil, é um avanço. Pode ser o início vagaroso de um diálogo, de se tentar compreender argumentos e dores após os horrores dos últimos dois anos. Agora, se essa trégua vai mesmo durar? Quem arriscar uma resposta está mal informado. Ela só funcionará se for um instrumento para ultrapassar sentimentos de vingança, ódio e hostilidade. Vou além: mesmo que qualquer entendimento se revele impossível, o silêncio respeitoso já seria um avanço para experimentarmos alguma normalidade. Para sentirmos algo tão banal em outros lugares como tocar a vida. Mas as tentativas de cortar esse fio tênue serão muitas e constantes. Esta é, hoje, a medida da minha esperança.

David Grossman, escritor e intelectual israelense — Foto: Pedro Kirilos

O senhor segue defendendo a solução de dois Estados como a única saída para a paz?

Sim. Se você tiver solução melhor, por favor me diga e eu a abraçarei. A implantação dos dois Estados, aliás, ficou ainda mais urgente agora. Deu-se a prova cabal e terrível de que israelenses e palestinos não são capazes de viver sequer como primos, descendentes de Abraão, que são. Muito menos como irmãos siameses no mesmo país.

Netanyahu afirmou que isso jamais acontecerá, pois seria premiar o Hamas…

E o seria, de alguma forma. Mas também um tento para Israel, que negociaria com um Estado palestino e em outros termos. Condições podem ser acordadas, entre elas vetar a grupos armados terroristas participação em eleições e governos.

Netanyahu está mais forte ou mais fragilizado para as eleições israelenses de 2026?

Quem o adora não diminuiu a idolatria, e os que o odeiam têm mais razão para se opor a ele. Será importante observar como ele lidará com o Hamas agora. E se conseguirá seguir vendendo a ideia de ser o único líder capaz de fazer o presidente americano, Donald Trump, dançar conforme a música que ele, Netanyahu, decide tocar. A guerra aumentou o fanatismo religioso, o número dos que creem Israel ter sido salvo do Hamas por Deus, narrativa hoje central no diálogo nacional. Ao se perceberem novamente na iminência da aniquilação, como no Holocausto, mais judeus se agarraram à resposta fácil da promessa divina. E mais defensores do Estado laico deixaram o país por não desejar criar seus filhos nesse clima. Os que ficamos estamos profundamente tristes. Sei que tristeza pode parecer agora, diante das mortes, um sentimento abstrato demais, mas as cabeças baixas em Israel escancaram o quão terrível tem sido encarar a verdade, a brutalidade animal destes tempos. O que os vídeos dos terroristas revelaram no ataque de 7 de Outubro é algo incomparável. E o que Israel fez? Como um país forjado por refugiados pôde obrigar seus vizinhos a se moverem de um lado para o outro, naquelas condições?

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Em agosto, o senhor denunciou, “com o coração partido”, o que classificou de genocídio cometido por Israel…

Sei que é uma palavra gravíssima, demolidora. Mas o fato de Israel ter cometido genocídio, além da enormidade das mortes, é também um deboche com nossa própria História. Buscou-se certificar que a sociedade palestina não pudesse se reerguer em Gaza, que fosse eliminada. Também é importante não deixar, frente ao horror maior de agora, que se perca a importância da maneira como tratamos os palestinos nas últimas seis décadas, privando-os de orgulho e dignidade. Mesmo sabendo que teremos de viver uns ao lado dos outros, que a condição geográfica se imporá sempre. Nos dias seguintes ao 7 de Outubro, as ruas de Israel foram tomadas pelo desejo de vingança. Entendo, por experiência própria, que há algo legítimo na reação do cidadão comum ao mal. Mas a vingança não pode guiar governos. É o que faz Netanyahu, para avançar interesses privados. Assim enfraquece Israel e compromete uma real e necessária integração.

O senhor também denuncia o antissemitismo que vê nos protestos nos EUA e na Europa após a invasão de Gaza…

Israel pode, e deve, ser criticado quando priva os palestinos de suas terras, e pelo genocídio em Gaza. Mas qual o real significado da alegria em se demonstrar ódio a Israel e aos judeus? O antissemitismo reapareceu nas passeatas, mas também em artigos na imprensa, nas universidades, nas seguidas declarações de que Israel é que não teria o direito de existir. Vieram me perguntar: “Mas por que o senhor não volta ao seu país de origem, lá na Europa Central?”. Volta e meia, um líder do mundo ocidental afirma ser “defensor do direito de Israel existir”. Como assim? É ele quem vai dizer que eu, israelense, existo? Discutem nosso direito de ser de forma banal. Também não me calarei, a esta altura, frente a isso. Você tem ideia do que é passar uma vida inteira sem ter nem sequer um dia de paz?

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E jamais considerou sair de Israel?

Este foi um dilema sobre o qual eu e minha família nos debruçamos, especialmente após a morte do Uri [seu filho, aos 20 anos, pelo braço armado do Hezbollah, na Segunda Guerra do Líbano]. Mas é relevante estarmos aqui. Nosso Israel sai, conosco, todos os sábados para se manifestar contra Netanyahu, os fundamentalistas e a guerra. Para voltarmos a viver em um Estado progressista, democrático e mais igualitário. Eu não poderia partir, especialmente agora. Estou pronto para mergulhar na campanha que a oposição progressista fará contra Netanyahu nas urnas.

Há dois anos, o senhor afirmou que não se dava ao luxo de se desesperar. Algo mudou?

Apesar de tudo, ainda não me dou ao luxo do desespero. Aprecio a anedota sobre o sujeito que, todas as sextas, protestava contra a Guerra do Vietnã. Um dia, foi abordado por um cético, que lhe perguntou: “Mas você de fato crê que mudará o mundo assim?”. Ele respondeu não ter a menor intenção de mudar o mundo. Seu protesto lhe assegurava o oposto, que o mundo não o mudaria. Nós, da esquerda, erramos ao buscar compreender o conflito árabe-israelense de modo exclusivamente racional, quando ele é povoado por emoções que também precisam ser consideradas. Mas não me tornarei mais um militante do ódio e da vingança.

Apesar, ou por conta do horror ao seu redor, o senhor tem escrito ficção?

Sim. Tenho trabalhado a conta-gotas. A realidade tem me confiscado até o desejo de comer, quanto mais o de escrever. Mas, mesmo quando a vida é tão sufocante como agora, nos dias em que acordo e consigo separar algumas horas para criar, sinto estar pronto para enfrentar, com as palavras, a agonia. Sigo então direto na labuta até as 14h. Aí deixo o sol entrar e, naquele instante, me sinto verdadeiramente feliz por ser capaz de investigar e mudar o significado das coisas. Escrever torna-se a prova de que eu não capitulei.

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