Ocaminho do meio nunca foi uma opção para Deborah Secco. Com ela, era tudo ou nada, oito ou 80. Intenso, urgente, frenético. “Sempre fui de extremos, mas percebi que não me fazia bem. Ou comia tudo, ou não comia nada. Ou falava tudo o que pensava de uma vez, ou me calava”, diz a atriz. “Após a morte da minha irmã, Ana Luísa (que faleceu aos 5 anos, quando Deborah tinha um e meio, devido a um choque anafilático), minha mãe me criou com uma urgência para a vida. Hoje, tento encontrar o equilíbrio.” Aos 45 anos — e somando 33 de análise —, tem desbravado a calmaria, sem deixar a autenticidade e a ousadia de lado.
A partir do dia 18 de julho, Deborah embarca em uma experiência inédita, como apresentadora do reality “Terceira metade”, do Globoplay, em que casais buscarão mais uma pessoa para o relacionamento. Tema tabu? Não para Deborah. “É preciso abrir o olhar para uma ética diferente da nossa. Eu sou zero preconceitos”, garante, em uma conversa franca de duas horas, após a sessão de fotos deste ensaio de capa, em São Paulo. Desde a infância, quando fez os primeiros trabalhos na TV, na novela “Mico preto” (1990) e na série “Confissões de adolescente” (1994), Deborah vive sob escrutínio público. Protagonizou novelas no horário nobre, como “Celebridade” (2004), “América” (2005), “Insensato Coração” (2011) e “Salve-se quem puder” (2020), e filmes polêmicos, na pele de “Bruna Surfistinha” (2011) e da soropositiva Judite, em “Boa sorte” (2014).
Fez da vida um livro tão aberto que, agora, corta um dobrado para manter longe dos holofotes o namoro com o produtor musical Dudu Borges, seu primeiro relacionamento longo desde a separação com o ator e diretor Hugo Moura, pai de sua filha, Maria Flor, de 9 anos. A busca pela discrição, entretanto, nem de longe impede Deborah de falar sobre sexo, assunto ainda espinhoso para muitas mulheres. “Fomos treinadas para fingir que gozamos, demorei para desmistificar isso. Quero que a geração da minha filha seja diferente”, pontua. “Mas vejo muitas mulheres ‘cool’ me julgando, olhando torto. Entendi que as pessoas não estão preparadas para essa conversa.” A seguir, os melhores trechos da entrevista.
Apresentar um reality era um desejo antigo?
É uma realização absoluta. E sou totalmente parcial: torço, vibro e fico triste pelos participantes. Temos de tudo ali: pessoas monogâmicas, pessoas poligâmicas, pessoas aprendendo e outras mais livres.
Já transou ou teve uma relação a três? O que pensa das novas dinâmicas?
Cheguei ao reality me achando supermoderna, e saí como uma “careta” (risos). Já me apaixonei e namorei mulheres, mas nunca três pessoas. Existem muitas formas de amar. A Regina Navarro Lins (psicanalista) estará no reality e traz um discurso forte, do amor romântico, de que é preciso um “príncipe encantado” para ser feliz. É preciso desconstruir a visão que oprime o diferente.
A Regina diz que, numa relação, o que o outro faz quando não está com a gente não é da nossa conta. concorda?
Totalmente. No amor romântico, há o sentimento de posse. Quem você é, o que faz quando não estou junto… Se eu viver para controlar isso, o que vai se tornar a minha vida? O que existe de mais potente é a nossa liberdade. Não quero mais um relacionamento de mentira, para ter medo e me sentir oprimida. Esperamos que os combinados sejam cumpridos.
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Sua relação com Dudu Borges é monogâmica?
Sim. Nunca falei que vivo ou vivi um relacionamento aberto. Minhas relações são vivas, com acordos, tudo é bem conversado. O acordo hoje é a monogamia. Amanhã pode ser outro, não sou contra nada.
Você já disse que, quando alguém nos trai, o que dói é o ego. O quanto trabalhou para entender mais sobre relações, ciúmes e ego?
Faço análise desde os 12 anos e ainda levo bronca da minha terapeuta (risos). Aprendi rápido a ouvir o que é do ego e o que é da alma. Sobre o ciúme, a gente pensa: ‘Como assim não sou a pessoa mais importante do mundo?’. Mas você entende que é uma dor projetada pelos seus medos.
Por que começou tão cedo na análise?
Eu fazia “Confissões de adolescente”, e o Daniel Filho, diretor, falou para a minha mãe: “Essa menina vai ser muito famosa. Precisa fazer análise”. Deveria ser obrigatório. Você pega suas dores e questiona: o que faço com elas? Por que dói? De onde vêm? Ao encontrar as respostas, a vida fica mais leve.
Quais outras descobertas o processo trouxe?
Que não vamos agradar a todos. E a buscar um caminho do meio, que não é nem da liberdade absoluta nem da reclusão total. Eu era dos extremos e não me fazia bem: ou comia tudo o que queria, ou não comia nada. Ou falava tudo o que pensava de uma vez, ou me calava. Sou intensa. Quando minha irmã Ana Luísa morreu, aos 5 anos (Deborah tinha um ano e meio), fui criada com uma urgência pela vida.
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Você fala abertamente sobre sexo. Teme ser rechaçada pelas marcas, perder campanhas?
Meu maior presente, minha filha, veio de um ato sexual. Não pode ser algo feio. Quero falar sobre sexo porque o homem está em um lugar mais confortável para isso. Se não me contratam, é porque é errado eu dizer que sinto prazer? Vejo mulheres ‘cool’, feministas, me julgando. Como se eu não fosse adequada para ocupar certos espaços. As pessoas não estão preparadas para essa conversa
Já disse que não via o sexo como um ato prazeroso, mas um ato de serviço. Por quê?
Não senti prazer na primeira relação sexual. E não só eu, todas as minhas amigas. Fomos treinadas a fingir que gozamos. Demorei para desmistificar isso. Muito do meu entendimento veio do meu autoprazer.
Além do prazer, outro assunto caro às mulheres é o direito ao aborto . É a favor?
É preciso falar da importância da prevenção à gravidez. Em um país onde a desinformação reina, é difícil brigar pelas coisas depois. As crianças precisam ter aulas de orientação sexual, saber o que é ou não abuso. Mas uma mulher que não quer ter filhos não pode ser obrigada a isso. Devemos ter direito às nossas escolhas.
Separar-se do Hugo Moura, pai da sua filha, foi o fim de um sonho?
Sim. Tive e tenho ainda dores da separação dos meus pais (quando Deborah era adolescente). Foi difícil imaginar que poderia proporcionar essas dores para a Maria. Fiquei distante do meu pai, era uma ausência dilacerante.
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Ter tido muitos namorados foi uma maneira de suprir essa ausência?
Alguém falou para a Maria que tive muitos namorados, e eu disse: ‘Quando você tiver um namorado que te faça mal, que te machuque, vá embora. Não importa quantos sejam’. Busquei homens que me abandonavam, que não escolhiam por mim, porque meu pai tinha esse padrão. Não era racional. Ele é incrível, mas foi o que ficou da separação deles.
Maria Flor aparece sempre nas suas redes sociais. O quanto tenta protegê-la desse mundo virtual, de uma “adultização” precoce?
Preocupo-me, tento proteger o que ela consome, o tempo de tela, mas não proíbo. Seria descontextualizá-la da sociedade, em que quase todas as crianças têm acesso à internet. Conversamos sobre tudo, de forma superficial e lúdica, dentro do que uma menina de 9 anos entende.
Em 2018, você se posicionou contra o ex-presidente jair bolsonaro. sete anos depois, como analisa o país? É uma mulher politizada?
A gente precisa de um caminho do meio, porque essa polarização só traz danos. Uma alternativa à essa loucura de direita e esquerda. Nada que gera ódio pode ser bom. E não estamos em um bom momento. Eu acompanho política menos do que eu gostaria e mais do que estou suportando. É muito difícil ser politizada no Brasil.
E o que está lendo no momento?
Os meus livros do ano são “Caderno proibido”, de Alba Céspedes, e “As pequenas virtudes”, de Natalia Ginzburg. Também gosto de literatura infantil: reli “Poliana” e li, com a Maria Flor, “O pequeno príncipe”. Sou bem eclética.
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