O nome é pequeno. A força, gigante. E o talento, sob medida. Há 10 anos, quando Isabela Lima decidiu largar a publicidade para se dedicar à cantora IZA (assim mesmo, em caixa-alta, pois “já que a palavra é curtinha, fica mais forte com três maiúsculas”), não tinha ideia das piruetas que a vida daria. Filha única de uma família de classe média baixa de Olaria, Zona Norte do Rio, começou a ouvir os gênios do R&B ainda menina, por causa de uma enchente na casa em que vivia com o pai, militar, e a mãe, professora.
Foram-se os discos do Balão Mágico, da Xuxa e da Angélica e ficaram os que os adultos gostavam de ouvir: George Benson, Michael Jackson, Stevie Wonder, Diana Ross e Donna Summer. E isso diz muito sobre a artista de voz aveludada que transita com facilidade entre o pop e a soul music.
Aos 35 anos, IZA coleciona feitos grandiosos como dois álbuns (“Dona de Mim” e “Afrodhit”) e um terceiro à vista, só de reggae (os primeiros singles, “Caos e sal” e “Tão bonito”, acabam de ser lançados), quatro indicações ao Grammy, dezenas de prêmios nacionais, 21,5 milhões de seguidores no Instagram e, o maior de todos: a pequena Nala, que completa 1 ano no próximo dia 13.
Com as dores e as delícias da maternidade, vieram mais aprendizados. Em julho de 2024, aos seis meses de gravidez, IZA gravou um vídeo em que contava não estar mais com o pai da filha, Yuri Lima, e expôs a traição do ex-jogador de futebol. Meses depois, os dois reapareceram juntos, mas a cantora decidiu não anunciar a reconciliação. Desde então, foi atravessada por opiniões, julgamentos, discursos de ódio e declarações de amor, fazendo com que se afastasse das redes sociais.
Na entrevista a seguir, ela fala sobre tudo isso, amor, religião, moda e muito mais:
A força dos ancestrais nos protege da dor, como diz sua recém-lançada música “Caos e sal”?
Essa música é muito especial. Recebi do compositor Rafa Chagas há uns quatro anos. Ao lançar, agora, escrevi umas coisas, como essa parte citada por você. Minha mãe costuma falar muito isso. E a minha avó, mãe da minha mãe, era muito religiosa, uma mulher profética. Ela afirmava que quem vem antes protege muito a gente.
Por que esse mergulho no reggae?
Os ritmos que mais me movimentam são o R&B, o soul e o gospel. E consigo enxergar todos esses ritmos dentro do reggae. É o que quero cantar neste momento. Fora as bandas que escutei a vida toda, há o trabalho de artistas, como Gilberto Gil. Ele enxergou uma semelhança entre o reggae e o xote que acho genial. Então, passei a perceber o reggae em outros lugares também.
O reggae, por ser baseado na filosofia rastafári, dissemina mensagens de amor e de paz. Essa sua conexão tem a ver com a maternidade?
Sim. A gente fica exalando amor ao dar à luz. E pensa muito enquanto materna. Passei a me sentir mais à vontade para falar no palco coisas que vêm à minha cabeça, na hora do show, como uma profetisa. Enxergo esse lado espiritual no reggae, que é também uma filosofia e uma música política.
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Como a chegada da Nala impactou a sua rotina?
Tenho me sentido muito preenchida com a maternidade, é uma coisa muito louca ficar ao lado dela, saber que está de banho tomado e alimentada, sentir o seu coraçãozinho, é uma plenitude. Estou mais feliz e mais encorajada em criar. Filho dá muita força, faz com que vejamos o que é realmente importante na vida e que não somos o centro do mundo. Nala é muito engraçada, uma figura e gente boa comigo. Ela se adapta bem a lugares diferentes, e a levo em algumas viagens. Quatro dias é o meu limite absoluto para ficar longe dela. Essa dinâmica é a mais complicada.
Como atravessou o puerpério?
Tive a Nala com 38 semanas, e meu leite ainda não tinha descido. Quando finalmente veio, ela já estava superadaptada à fórmula. Então, ela é um bebê de mamadeira. Foi muito dolorido no início, porque não me sentia animal o suficiente para alimentar a minha cria. Criei muitas expectativas e, por não ter rolado, foi complicado. Tentei de tudo, mas não podia deixá-la com fome. Falam muito sobre amamentação, mas não é cor-de-rosa para todo mundo.
Você se preocupou em “voltar à forma” rapidamente depois da gestação?
É um assunto pouco abordado, mas a voz muda muito por causa da gravidez e dos hormônios. Tive que aprender a cantar grávida e agora estou reaprendendo a cantar sem a barriga. Isso tem me desafiado. Também preciso tratar meu joelho esquerdo, rompi o ligamento cruzado anterior antes da gestação, e voltou a doer. Estou me esforçando para me sentir confortável no palco, e isso não tem nada a ver com a minha estética. Só agora, com a Nala com quase 1 ano, voltei para academia, mas sem cobrança.
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Acredita que a sua filha vai ser adolescente numa sociedade menos racista?
Já vejo bastante diferença da minha época (de adolescência) para os dias de hoje. O racismo passou a ser discutido, e as situações foram nomeadas, o que, no passado, não acontecia. Também temos líderes intelectuais com espaço para debaterem esses temas, graças às redes sociais, que têm um lado péssimo e outro maravilhoso, que é conseguir atingir muita gente e criar movimentos. Há também o checklist de empresas: é preciso ser inclusivo, diverso, cruelty free, sustentável. Algumas realmente se conscientizaram, e isso é algo novo.
Como você está lidando com o patrulhamento e as críticas em relação à sua vida pessoal nas redes sociais, por ter reatado com yuri lima depois de ter gravado e publicado um vídeo sobre a traição dele?
Não estou lidando nem vendo (os comentários). Entendo que muito do que se fala é reflexo da preocupação que as pessoas têm comigo, mas há quem só queira incitar o ódio. Recebi a notícia uma hora antes de gravar o vídeo. Me senti em perigo, essa foi a real. Estava grávida, cheia de hormônios. É complicado abrir a vida para pessoas que te amam e para aquelas que não te amam. Porém, enquanto mulher, não me arrependo do que fiz. Lembro de ter conversado com uma professora de ioga, que comecei a praticar na gravidez. Certa vez, ela me disse: “Quando a gente está grávida, não tem de segurar nada”. Peguei aquilo e guardei. Naquela situação, não foi diferente. É claro que já me culpei, mas fiz o que estava ao meu alcance. Hoje, me sinto mais madura para lidar com as coisas de outra forma.
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Você se tornou, por causa disso, mais reservada nas redes?
Sendo muito sincera, acho que fiquei mais frágil. As pessoas falam: “IZA não acessa as redes sociais, não olha (os comentários). Isso é tão adulto”. Não é adulto, é só fragilidade mesmo. Estou fugindo. A gente não sabe o tamanho que a internet tem na nossa vida até algo nesse sentido acontecer. Partimos do princípio de que as pessoas pensam antes de escrever, mas na verdade, não. E as palavras podem bater em mim de uma forma mais profunda do que deveria. Para eu estar superconectada, preciso me sentir muito bem porque sei que vou me deparar com todo o tipo de coisa.
O que mais te abala atualmente?
Tanta coisa. Falta de paz mental e espiritual. Mas estou numa fase feliz e mais madura.
Sou católica praticante. Fiz catequese, crisma, retiros, comecei a cantar na igreja, ia à missa todos os domingos, fazia parte de grupo de oração, de vigília. O que eu faço hoje é estar com a minha Bíblia e conversar com Deus todos os dias. Há os momentos de devoção, em que coloco os joelhos no chão e digo: “Senhor, tu és tudo para mim”. E há aqueles em que troco ideia com Ele. Parece que sou meio doida, falo com o meu português, assim: “Que isso, cara? Vou ficar doida”. Deus sabe o que se passa no meu coração.
Você se expressa bastante por meio da moda. Como define seu estilo nesse momento?
Meio street, amo joias e acessórios. Misturo referências de Lauryn Hill com Erykah Badu. Sou uma perua do reggae.